Campinas, 09 de abril de 2021 - Fechados desde o dia 11 de março, 90% dos bares e restaurantes estão sem caixa para pagamento de despesas e salários dos funcionários. A permanência dos estabelecimentos fechados na Fase Vermelha até o próximo dia 18 de abril, pelo menos, anunciada hoje pelo Governo de São Paulo, deve engrossar ainda mais o número de falências e demissões nos próximos dois meses. A previsão é da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Campinas e Região, que tem contabilizado pelo menos dez fechamentos por semana.
“O setor vive um momento de extrema gravidade, muito maior daquele cenário de um ano atrás, quando começaram as medidas restritivas e ficamos 141 de portas fechadas”, explica o presidente da Abrasel regional Matheus Mason. “Em março de 2020 as casas ainda tinham caixa e o governo federal ajudou com a Medida Provisória 936, de pagamento de parte dos salários”, lembra. “Hoje, a grande maioria do setor está sem recursos, endividado, se ajuda dos governos e, para piorar, sem dinheiro até para pagar os salários dos funcionários em abril e maio, uma situação extremamente crítica."
Os fechamentos impostos por estados e municípios em fevereiro, março e abril emparedaram os bares e restaurantes. De um lado, o faturamento caiu ou até mesmo zerou. De outro, as dívidas acumuladas em 2020 têm de ser pagas. Com isso, a esmagadora maioria se vê em situação crítica, sem ter como honrar dívidas e com enorme problema até mesmo para pagar funcionários. É o que aponta a mais recente pesquisa da Abrasel, realizada entre os dias 1 e 5 de abril, com mais de 2 mil respostas de empresários do setor de alimentação fora do lar em todo o Brasil.
Nada menos do que 91% disseram enfrentar problemas para pagar os salários de abril – sendo 76% já tiveram dificuldades para pagar a folha de março. Além disso, 73% tiveram de demitir empregados nos três primeiros meses do ano. Isso é resultado direto do faturamento baixo (82% trabalharam no prejuízo em março) e do alto endividamento: 76% dos respondentes têm algum tipo de pagamento em atraso, principalmente impostos, aluguéis e fornecedores – 70% destes estão com parcelas do Simples vencidas.
“Estamos há mais de três meses na espera de uma nova MP dos salários, que permita a suspensão de contratos ou redução de jornada, com a contrapartida do BEm, o benefício emergencial. Em janeiro nós já alertamos o governo federal de que a situação ficaria crítica. Sem isso, mesmo caminhando para a reabertura, muitos estabelecimentos não irão aguentar. As ajudas em alguns estados e municípios foram bem-vindas, mas insuficientes”, diz Mason.
A Abrasel estima que a demora para reedição da medida, contribuiu fortemente para o encerramento definitivo de mais 35 mil empresas do setor alimentação fora do lar, de dezembro até o momento, o que teria impactado cerca de 100 mil postos de trabalho. Somente na Região de Campinas cerca de 33% das empresas do setor tiveram de encerrar suas atividades ao longo do ano passado, e cerca de 25 mil empregos foram eliminados pelo setor da RMC ao longo da pandemia.
“Hoje, pelo menos dez bares e restaurantes estão encerrando suas atividades por semana em Campinas e cidades da região”, lembra Mason. “Além de demitir, estes estabelecimentos estão sem caixa para pagar os encargos das dispensas, com o trabalhador indo para casa sem dinheiro e sem nenhuma perspectiva de futuro”, completa.
Mason ressalta que as vendas por delivery, drive thru e retirada no estabelecimento - estes dois últimos somente até 20h, por conta do toque de recolher – são insuficientes para pagar as despesas mensais. Atualmente estes três canais de atendimento ao cliente, juntos, são responsáveis por aproximadamente 20% do faturamento. Com as restrições de horário, este índice tem uma redução de 40 a 50%, em média no setor.
A Abrasel em Campinas entende o momento delicado da crise sanitária, com mais de 340 mil vidas perdidas, e a necessidade de medidas restritivas para conter o avanço da pandemia e salvar vidas. Mas entende que o setor tem sido o mais penalizado com as medidas, apesar de todos os protocolos de segurança adotados pela maioria dos bares e restaurantes.