A diretriz sanitária determinada pelo governo de São Paulo para a covid-19, que colocou o Estado na Fase Vermelha entre 20h e 6h nos dias úteis e nos fins de semana, provocou uma queda de braço particularmente entre os donos de bares e restaurantes e o Executivo estadual, mas também com os municípios. A medida anunciada pelo governador João Doria (PSDB) foi criticada por impactar diretamente o funcionamento e o respectivo faturamento do setor.
Com o objetivo de estabelecer um diálogo entre o poder público e o setor privado, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Abrasel da Região Metropolitana de Campinas (Abrasel-RMC) criou ontem um fórum de debates com o apoio do Correio Popular. A iniciativa busca estabelecer meios para a construção de soluções conjuntas para conter o avanço da covid-19 e, ao mesmo tempo, garantir a sobrevivência dos estabelecimentos. A entidade ainda não agendou a primeira atividade do fórum.
O presidente da Abrasel-RMC, Matheus Mason, comemorou o apoio do jornal e lembrou que a medida do governo estadual pode levar ao fechamento de muitos negócios na área de alimentação fora do lar. "Pessoalmente, como presidente da Abrasel, fico muito feliz com essa posição do Correio. Somos o setor que mais emprega no Brasil e que passa por grandes dificuldades nesta pandemia. Um fórum específico para empreendedores de bares e restaurantes é extremamente positivo na conjuntura que temos hoje. Para um setor que depende dos finais de semana e do horário noturno, esse fechamento anunciado compromete 75% de todo o nosso faturamento", apontou Mason.
O presidente executivo do grupo RAC, Ítalo Hamilton Barioni, ressaltou o protagonismo do Correio Popular na região e ainda lembrou que o momento de crise, gerado pela pandemia, exige diálogo de todos os setores da sociedade. "O Correio está voltando às suas origens, da qual tinha se afastado, que é liderar os segmentos da sociedade. Esse setor de bares e restaurantes está sendo massacrado muito por conta de uma má interpretação. A população está sem nenhum tipo de lazer há muito tempo. O mínimo que se pode esperar por parte de bares e restaurantes é que respeitem os protocolos de saúde. As orientações construídas pela Abrasel Campinas, já no início da pandemia, serviram de base para todo o Brasil", ressalta Barioni.
Primeiras medidas
O fórum de debates, segundo Mason, quer reunir representantes do setor com os das prefeituras e das câmaras municipais da RMC. De acordo com ele, é preciso que as autoridades compreendam que os bares e restaurantes, quando seguem os protocolos estabelecidos, não são responsáveis pela disseminação da covid-19. "Desde março temos falado que é seguro abrirmos os estabelecimentos com o devido cumprimento dos protocolos. Queremos que as autoridades compreendam que não dá para crucificar o setor, uma vez que há estabelecimentos trabalhando de forma correta. Quando se trabalha direito, não tem contaminação", alega.
O presidente da Abrasel revelou ainda que a primeira medida do fórum é construir um consenso com as autoridades sobre a "urgente necessidade" de se manter os bares e restaurantes abertos. "Quando você afeta o setor de bares e restaurantes, você atinge outros setores relacionados, como o imobiliário, de fornecedores e de pequenos produtos. Isso compromete a economia como um todo. Queremos, dentro de um conceito multidisciplinar, definir quais os direitos e deveres que devem ser respeitados. Se tiver alguém que não segue, tem que fiscalizar e lacrar se for o caso", considera.
ICMS
Outra medida que o fórum coordenado pela Abrasel quer debater com o governo estadual é a alta no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Segundo Mason, não dá para o governo de São Paulo aumentar um tributo em plena pandemia. "Entendemos algumas necessidades do poder público, mas esse aumento veio no momento errado", criticou.
O setor, acrescentou o empresário, já está com dificuldades. O aumento do tributo afeta ainda mais o setor. "Quem sofre diretamente é o pequeno empresário, que já tem que lidar com os aumentos da cesta básica, diesel e outros insumos. Por isso, temos de fazer uma discussão qualificada, pública, transparente e que envolva um amplo conjunto de pensamentos para conciliar as necessidades da população e os interesses das esferas privada e pública", finaliza Mason.
Jornal Correio - Popular - Edição do dia 3 de fevereiro