Com 82% dos bares e restaurantes amargando prejuízos nos últimos meses e registro de fechamento de estabelecimentos – sejam pequenos ou tradicionais, como a unidade da pizzaria Ritorno do Cambuí – representantes do segmento pedem à Prefeitura Campinas a adoção de “medidas de reparação”, como auxílio financeiro ou isenções de taxas municipais em meio à pandemia da Covid-19. Também pedem um período de tolerância para funcionamento após o horário de fechamento, como ocorreu em 2020.
As solicitações foram apresentadas nesta segunda-feira (19) pela Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) de Campinas e Região em audiência na Comissão Especial de Impactos Econômicos da Pandemia, na Câmara Municipal. O presidente da Comissão e líder do governo Dário Saadi (Republicanos) na Casa, vereador Luiz Rossini (PV), disse que as demandas serão encaminhadas para avaliação da Prefeitura.
No encontro, empresários ligados à Abrasel fizeram depoimentos pessoais sobre os problemas enfrentados para pagar funcionários e a impossibilidade de evitar mais demissões, caso não sejam adotadas medidas federais – como em 2020 – estaduais ou municipais de socorro ao setor. A preocupação persiste mesmo com a Fase de Transição do Plano São Paulo de Combate à Covid, que segundo eles ainda é insuficiente para o início de uma recuperação.
“O que passamos e vamos passar é muito preocupante. Estou há 45 dias dentro de casa, me sentindo muito mal porque tive que demitir funcionários”, contou Cláudio Fernandes, proprietário do grupo Romana.Em janeiro de 2020, disse ele na audiência, as unidades de seu grupo tinham 1.094 funcionários. Desses, 260 foram mandados embora por causa da pandemia. E outros podem ter o mesmo destino se não for liberado o auxílio para salários do governo federal.
A crise não poupa nem mesmo os bares e restaurantes que se tornaram quase “patrimônio” dos clientes. “Fechamos a Ritorno do Cambuí há 30 dias. Pelo menos no ano passado tivemos como financiar salário, tivemos o Pronampe (programa de empréstimos federal). Mas este ano, até agora, estamos sem ajuda nenhuma. Tive que fechar para não ficar passando vergonha com fornecedores e funcionários. O atendimento presencial conta muito para nós, só o delivery não fecha as contas”, afirmou Mário Protázio, proprietário da rede Ritorno. A unidade do Cambuí atendia há 35 anos e era uma referência do bairro.
O presidente da Abrasel na região, Matheus Mason, diz que a entidade fez uma tabela com cidades e Estados que estão dando isenções de taxas como IPTU, ICMS e até IPVA para as frotas dos restaurantes, ou de água e luz, com objetivo de evitar demissões. “O nosso setor pagou uma conta desproporcional nessa pandemia. Somados os períodos de restrição, a gente já ficou 154 dias fechado. Isso é meio ano, é muita coisa”, argumentou. Os pedidos feitos ao Município são estendidos a todas as esferas de governo. Em Brasília, o segmento tenta articular o retorno do auxílio para pagamento de funcionários.
Segundo a Abrasel, 82% dos bares e restaurantes da região tiveram prejuízo em março (eram 65% em janeiro), 97% estão sem caixa para pagar salários e 76% tiveram que demitir no primeiro trimestre – nesse último caso, 73% têm intenção de recontratar caso sejam autorizados a reabrir. Mason afirmou na audiência que antes da pandemia, o segmento era responsável por 35,2 mil empregos em 14 mil empresas, só na cidade de Campinas. “Estamos com 61% dos pagamentos em atraso”, afirmou.
Ações oficiais
Rossini, que preside a Comissão da Pandemia, disse que os pedidos mais imediatos serão encaminhados ao prefeito – como flexibilização de horários, ajudas e possíveis isenções. Mas adiantou que vai ser difícil a adoção, por exemplo, de descontos em impostos municipais, já que a pandemia aumentou os gastos públicos na saúde, e por isso o Município não pode perder receitas. “O Matheus (Mason) coloca o termo medidas de reparação, achei interessante e a gente quer saber se há medidas de outras cidades e Estados, e quais são”, garantiu.
A Prefeitura informou, em nota, que desde o início da pandemia tem recebido representantes dos vários setores da economia para ouvir demandas e buscar soluções “para a manutenção do setor produtivo”.
“Um grupo de trabalho, formado por secretários de várias Pastas, está estudando medidas que poderão ser adotadas para minimizar os prejuízos e também para auxiliar no pós-pandemia para a retomada das atividades. As medidas serão anunciadas pelo prefeito Dário Saadi”, diz o texto.
(RadarC - 20/04/2021)